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sábado, 10 de maio de 2014

O fio de Ariadne




Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio seu. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará”.
(Cacique Seattle, da tribo Suquamish)



Certos verbos não são encontrados em esquinas banais. Permanecem escondidos, se esgueirando por entre poças e becos, de onde observam os receptáculos em que intencionam se instalar e se (re)velar. São como sombras que ocultam do mundo o que ele já conhece, mas não ousa expressar. Porque a vida nem sempre abre suas portas para que as sutis e plenas entregas existenciais prevaleçam.

Às vezes, ao contrário, a vida aposta em labirintos, na busca de ensaios e brechas por onde se espremem sonhos inconfessáveis. Sonhos de um desfazer, de isolamento, de uma perda que se esvai...como que exalando aquela sensação incômoda de que há algo fora do lugar, tal como uma nota dissonante ou uma cor fugidia da palheta inundada de nuances imprevisíveis.

São tênues os fios que mantêm as estruturas estáveis e eles podem se romper a qualquer instante, abrindo as comportas da superficial sanidade que nos define. Imersos nas densas e alucinadas brainstorms que castigam, contínua e severamente, as frágeis conexões, eles se constroem e nos induzem às vastas e profundas loucuras a que nos sujeitamos na execução dos dias. Com sorte, a loucura se apropria do ser e derrama sobre ele as bênçãos da inconsequência libertadora. Assim, se nos oferece a oportunidade de penetrarmos cada vez mais em direção a destinos imaginários, repletos de ilusões e fantasias.

Das ilusões e fantasias, Ariadne puxa o fio singular que moldará o próximo enigma a ser solucionado nas profundezas das teias que capturam e formam as essências estruturais. As teias de nosso próprio destino, que se pulveriza e se estende desde toda a eternidade. Ele nos guiará sem prevenções e sem reservas, pouco se importando de onde veio ou para onde vai. Não são os começos ou fins que prevalecem, mas as conexões que deságuam pelas camadas sucessivas de vida e morte, na romaria perene de nossos desígnios.

Também não é possível saber quando ou quantos fios irão se desprender da ignóbil e corpulenta extensão que os mantêm presos. A vida vive apenas por um e as veias se fartam de infinitos. São eles, entretanto, que nos permitem as escolhas e, através delas, os inevitáveis desdobramentos que irão gerar infinitas possibilidades sem que haja, necessariamente, uma lógica. Esta se constrói por intermédio do simples desenrolar do novelo. De cada ato, uma consequência; de cada vislumbre, uma perspectiva que, como o bater das asas da borboleta, pode alterar ou antever os caminhos a percorrer. Os labirintos existenciais se entrelaçam na desenfreada tentativa de formar uma cadeia de acontecimentos quase improváveis e impossíveis, tornando o percurso mais tenso e delicado a cada passo.


Porquês não são sempre determinados ou determinantes e, assim, pouco importa por qual direção da encruzilhada seguir. Vale mesmo o percurso, o risco do precipício e a altura aparentemente instransponível da montanha. Pois, na realidade, não temos como saber sobre meios ou fins antes do início da trilha e qualquer uma dará em algum lugar e em algum tempo... qualquer tempo ou no tempo de cada um, especialmente daqueles que não se subtraem a prazeres e dores ou a dor dos prazeres ou aos prazeres da dor.



Luana Tavares (maio/14)


2 comentários:

  1. Olá Luana!

    Parabéns pelo texto! Ficou muito bom!

    Abraço!
    Miguel Angelo

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  2. Obrigada, amigo Miguel!
    Sempre um prazer contar com sua visita.

    Abração da Lua!

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