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sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sentenças possíveis




De onde as coisas têm seu nascimento, para lá também devem afundar-se na perdição, segundo a necessidade; pois elas devem expiar e ser julgadas pela sua injustiça, segundo a ordem do tempo”. (A sentença de Anaximandro – tradução de F. Nietzsche).

Que o austero filósofo me permita uma espécie de licença poética e/ou talvez temporal – forçosamente adaptada aos nossos dias – de suas palavras. Mas me ocorreu, enquanto relia a sentença, que na nossa atual dimensão espaço-tempo, parece que sofremos uma espécie de sentença em escala planetária, associada aos prenúncios quase apocalípticos de que estamos à beira do caos existencial, pragmaticamente falando!

Obviamente que estamos atravessando momentos críticos, no que tange à consistência física, estrutural e social do planeta, entre outros fatores. Mas creio que já estamos nesta fase há algum tempo. Talvez devêssemos começar a agir como as crianças que se encantam e buscarmos uma postura mais deslumbrada diante da vida, entendendo que nosso papel é ínfimo diante da vastidão de possibilidades.

Discussões reincidentes à parte, talvez seja preciso apenas iniciar (e prosseguir) uma singela reflexão sobre a dinâmica da vida, que se renova e se completa em si mesma. No fundo, talvez ela (a própria natureza), seja muito mais forte do que possamos conceber e nós, que a sentenciamos e nos julgamos determinantes, ainda rastejamos em busca de algo que nem mesmo entendemos. Talvez sejamos apenas catalisadores de algo que a precipite sobre si mesma. A vida, em sua extensa dimensão, provavelmente se basta, se integra, se conecta, se estabiliza e existe por si só... nosso papel, embora importante e fundamental como parte desta conexão e deste equilíbrio tão ansiado, se resume a uma composição, cujo sentido ainda está se revelando.

O que importa então seja simplesmente retomarmos um atribuído olhar primordial grego de que tudo está imbuído de e na natureza, no sentido simples e assustadoramente intrigante de sua essência; de que ela totaliza entes e participa da constituição de algo maior do que supomos... de algo que também faz parte do universo; de algo que por si só é o próprio universo.

Então, ficamos pequeninos e, assim, quase tudo que é efêmero perde seu sentido... quase tudo se esquiva diante da imensidão da eternidade ou do pulsar contínuo da inspiração entre dois princípios. Será que diante de algo assim, guerras, emissões de gás carbônico ou discussões efêmeras e de intenções duvidosas têm, afinal, importância? Bem, talvez sim, se considerarmos que cada emanação de energia pensante e atuante pode fazer a diferença, que cada singularidade pode alterar sensivelmente o destino final da folha que se solta da árvore ou do som de uma pena que toca suavemente o chão. 

Na ordem do tempo, que existe por si mesmo, atemporal na sua suposta e imune estagnação, preexiste a noção de que, de fato, possa vir a ser aquilo a que se está destinado. Na sua dimensão, nada (ou tudo) faz sentido... mas talvez só seja contabilizado o que realmente importa ou, enfim, apenas os atos que tenham em si algo de transformador, ainda que ínfimos.

Pontualmente, é preciso acordar para que os rios continuem fluindo, para que os fenômenos climáticos continuem determinando as temperaturas que nos cercam, para que o ar puro prossiga invadindo bilhões de pulmões carentes de vida e de sonhos. É preciso que a sentença do nosso nascimento não nos apavore ao ponto de minar as esperanças que nos faz rolar a pedra ladeira acima, sem jamais desanimar, sem nunca desistir... como se o instante de lucidez ao voltarmos o olhar para a pedra que rola nos fizesse cientes de nosso momento único na escala que intercedemos. A perdição de nossa certeza nos incita a continuar, a resistir, a insistir em compreender o que está entre nós desde o início dos tempos e que vai permanecer, quer nos afundemos em nossas expiações e necessidades, quer elevemos o olhar para um destino que está além do topo da montanha.

Certamente que ainda há muito que trilhar num sentido mais amplo e sensível... deve faltar pouco, mas esse pouco é tão significativo, que pairam dúvidas... Seja lá, entretanto, o que vier a acontecer ao destino, pode ser que a esperança tome as rédeas e abrande a respiração de seus seres racionais – aqueles que se julgam mais capazes, inteligentes, sensíveis e com maior domínio sobre bens, materiais ou imateriais, que não possuem. Ou talvez seja melhor entender que o planeta, enfim, deve ser mais sábio que alguns de seus arrogantes habitantes! Para o caos inimaginável, provavelmente seria preciso o extremo, e o pior é que somos capazes de chegar lá... mas outras formas de vida ainda serão vidas e talvez seja só o que importa. A natureza tem seus mistérios, afinal!

Sobre a sentença, o que importa dizer? Que cada um conforte a sua dor, sua incoerência, da origem ao ocaso, de onde for capaz de extrair suas próprias verdades (pois que cada um tem a sua, a seu modo e a sua medida) e que, de acordo com seu tempo subjetivo e eterno, e segundo sua necessidade e desejo, decida se é hora de expiar ou se recriar, pois que a única justiça possível advém do que está depositado exclusivamente em suas crenças e esperanças.

Luana Tavares (julho/2012)

2 comentários:

  1. Lindo artigo Luana! Me lembrou muito a resiliência, ou seja, a capacidade de superar as dificuldades da vida com esperança. Sempre persistir, sem jamais desistir. Caminhar é preciso...

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    1. Flávio, muito bom receber sua visita na Singularidade da Lua!
      Caminhar é preciso sempre... mas também é fundamental refletir sobre o papel que exercemos no desígnios dos diferentes caminhos que se apresentam na ordem da vida e do tempo. Somos seres resilientes pela nossa própria estrutura e devemos entender como podemos, através dessa capacidade de resistência e superação, contribuir para a construção de novos e melhores tempos!
      Abração e seja sempre bem vindo aqui!
      Luana

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